A ida até o terrirório de Diamantina em Janeiro de 2017, foi uma iniciativa que de início não havia sido traçada no projeto mas, que fluiu e foi realizada com a mesma intensidade em que ocorreu nas outras comunidades em que a Rota dos Baobás passou. Saimos da Casa de Cultura Tainã (Campinas – SP) no dia 24 de Janeiro às 15h, e seguimos direto para Diamantina com apenas duas paradas pra descanso e alimentação: a aprimeira às 18h em Carmo da Cachoeira já no Estado de Minas Gerais, e a segunda por volta das 21:40 em Belo Horizonte, onde nos conectamos com nosso parceiro Maurílio que é programador e que adiquiriu seus conhecimentos e contatos com o softwer livre na Tainã. Maurílio e sua companheira Ofélia que é astróloga, nos esperavam em sua casa junto com sua filha Lua de 7 anos. Chegamos na casa deles às 03:00h percorrendo um total de 870 km (de Campinas à Diamantina). Na manhã seguinte dia 25, conversamos com Ofélia e Maurílio que já haviam se programado para nos receber na Universidade Feredal dos Vales do Jequitionha e Mucuri, já que Ofélia é professora de Educação no Campo na Universidade. Então a tarde fomos até lá onde ela cedeu suas aulas pra gente fazer uma apresentação e conversar com os estudantes. Foi interessante o diálogo pois a Rota dos Baobás e a Rede Mocambos também pensa e articula ações que envolvem a agroecologia, troca de sementes criolas, a apropriação e registro das informações que nos são necessárias para o cultivo e preservação das nossas sementes e memórias. Grande parte das estudantes daquela sala eram mulheres quilombolas, o que tornou nosso contato ainda mais conectivo e simbólico. Trocamos ideias, notícias sobre as comunidades, seus territórios; telecentros, além de apresentar a plataforma do Baobáxia e algumas das ações que foram realizadas pela Rota nas comunidades quilombolas até então. As estudantes são de quilombos diferentes mas da região, alguns mais próxios do território de Diamantina outros mais longes. Entregamos à elas sementes de Baobás para serem plantadas em seus terretórios. A universidade fica à apenas 5 quilometros de distância da casa de nossos parceiros, onde tivemos a base para garantir o descanso e comunicação durante todo processo. Na manhã do dia 26, fomos novamente à Universdidade, mas desta vez em outra turma que também estuda Educação no campo e que também têm em sua maioria estudantes de comunidades quilombolas de Minas Gerais. Começou a ser pensado a possibilidade de criar núcleos de formação continuada dentro da Universidade, pensando em estruturar ainda mais os jovens para fortalecerem suas comunidades tanto no sentido de apropriação tecnológica digital quanto de preservação e compartilhamento de saberes partindo des do princípio de registrar os conhecimentos da comunidade e compartilhar com outras à trazer técnicas digitais para fazer manutenção por exemplo das máquinas dos telecentros que estão fora de uso em algumas comunidades. Ao longo da conversa fluiu ideias e questionamentos que sendo aprimorados podem potencializar os jovens, as comunidades e até mesmo a universidade. Foi fortalecedor tomar a benção de uma senhora centenária dentro de uma casa com quase 300 anos, que se manteve em pé por tantos anos a base do barro e de tantas histórias que foram vividas ali. As crianças, são carinhosas como os mais velhos, que acolhem sorriem e te recebem com todo carinho e atenção. As irmãs Ana Luiza e Luiza Silva, assim como os outros parentes, dão continuidade aos conhecimentos da família que vão des dos quitutes ao saberes da lua e sua relação com a terra. Ficamos juntos a tarde toda conversando e contando histórias, refletindo e conhecendo o território. Lá há uma espécie de formiga que alastrou e está prejudicando as plantações, então trouxemos algumas das formigas para analisar com outros parceiros aqui em campinas qual seria a melhor forma de evitar a reprodução delas para que não haja mais este problema. Histórias aconteciam e os meninos corriam no quintal junto com a Lua,que também foi junto pra conhecer pessoas histórias e lugares. Além de longas conversas fizemos vários registros fotográficos da comunidade, e a noite projetamos pra todos verem. Cantamos, brincamos, mostramos o tambor de aço e foi uma grande troca.
No dia seguinte, 28/01 fomos até o quilombo do Baú que fica a 94 quilometros de Diamantina. Nesta comunidade @s quilombolas trabalham com a produção do mel e também do bordado. Quando chegamos na associação da comunidade estava havendo uma reunião onde se tinha como mediadora a Mirts filha de Seu Ostáqueo, um senhor estudante de Educação no Campo que desenvolveu um sistema de irrigação e que também haviamos conhecido lá na Universidade. Após a reunião falamos sobre a Rede, sobre o Baobáxia que inevetavelmente abrangem questões que são estruturantes pras comunidades e que envolvem território livre, comunicação e liberdade. Foi interessante a atenção que tivemos e a troca de saberes. Logo depois da roda de conversa os quilombolas foram pra casa e dona Vera com seu Sebastião ficaram para nos apresentar sua casa. Vera nos mostrou alguns de seus trabalhos, couchas de bordado e almofadas de Marcela que é uma erva que dá no campo e que foram colhidas lá no quilombo, trouxemos uma almofada pra cá e a outra almofada que foi bordada por um menino quilombola de 12 anos ficou com a Lua. Seguimos caminhando até a casa deles onde conversamos mais e trocamos sementes. Trouxemos de lá, sementes de dois tipos de arroz e de milho e deixamos um punhado de farinha que foi produzido no quilombo do Espinho. Vera gostou do sabor da farinha e ficou contente pois a anos atras ela também produzia.
No dia 29, Mariângela uma jovem quilombola de 20 anos que também é estudante da Universidade foi quem nos guiou até sua comunidade: Quilombo Vagem do Inhaí. De Diamantina até lá percorremos 56 quilômetros entre asfalto e chão de terra e chegamos na hora do almoço, sua mãe já nos esperava com seus filhos e comida na mesa. Muito receptivas as crianças também nos acolheram e brincaram junto com a gente. Almoçamos, conversamos e seguimos por mais 16 quilômetros até a associação de Inhaí. Lá também tivemos uma longa conversa que abrangeu diversas questões. Da associação dava pra avistar de longe uma mina de ouro, onde ocorreu muitos casos de violência e de injustiças trabalhistas. TC fez grandes questionamentos que nos fez refletir. Os quilombolas de Vagem compreenderam e começaram a assimilar as provocações com os fatos que vivenciaram ao longo da vida na comunidade, e então nos contaram suas observações como por exemplo, o fato de que os mais velhos contam pouco sobre o passado, silenciam sua própria história. Atualmente as manifestações culturais na comunidade de Vagem do Inhaí acontecem com pouca frequencia. A religião católica e evangélica é a pratica de todas as famílias da comunidade e falar sobre a cura com ervas e sobre @s benzedeir@s do passado não é. Quando pensamos memória, pensamos naquilo que nos fortalece: os saberes do nosso povo. Respeitamos todas as crenças e também respeitamos nossa força cultural ancestral, sendo assim acreditamos que potencializar os elementos que fortalecam nossas tradições, nossa comunicação e nossas tecnologias ancestrais é o caminho pra construir um pais digno. A sementes é um dos principais elementos que garantam nosso futuro. Em Inhai também sementes, trouxemos de lá um ponhado de arroz e deixamos farinha.
Na associação a comunidade se reune pra fazer reuniões, cultos católicos e pensaram na possibilidade de fazer também exibições de filmes e documentários, sendo assim deixamos um projetor pra comunidade pra fazer as exibições. No fim da tarde voltamos e no caminho passamos mais uma vez em Inhaí na casa da família de Mariângela para nos despedir da criançada. Chegamos em Diamantina às 23h, deixamos Mariângela em sua moradia que fica próximo a universidade e fomos pra casa. Na manhã do dia 30, orgainzamos nossos materiais nos despedimos de Ofélia, Maurílio e Lua, que tanto contribuiram com esse processoe seguimos de volta pra Campinas. No caminho passamos em Bom Despacho que fica a 340 km de Diamantina para rever Mestre Jahça, que é parceiro de longa data, e como sempre o reencontro foi forte. É sempre bom ver e trocar notícias com os amigos de luta que correm junto. Saimos de lá por volta das 20h e seguimos viagem. Paramos duas vezes na estrada para descansar um pouco e chegamos em Campinas ao meio dia do dia 31.