No mês de Novembro, seguimos trilhando com o projeto Rota dos Baobás, que partiu na manha do dia 9/11 saindo de Campinas com uma equipe formada por cinco pessoas: Akin Barbosa, Luara Monteiro, Felipe, mestre TC e Layla. Percorremos 360 quilômetros até o quilombo de Ribeirão Grande que fica entre o estado de São Paulo e Parana. Lá fomos recebidos pela forte militante Nilse, seu companheiro, seus filhos e também pelo grande guerreiro Pininxa. Passamos a noite com eles na casa de Nilse pensando sobre as estratégias políticas necessárias para conquistar muitos dos direitos que ainda nos faltam. Trocamos notícias sobre nossas comunidades, histórias e saberes em torno do fogão a lenha e ao som do rio que corre ao lado da casa. Nessa comunidade as famílias praticam a agricultura de subsistência onde plantam em suas roças, se alimentam, trocam, vendem e compartilham os alimentos das colheitas. Na manhã seguinte trocamos sementes. Deixamos a eles um punhado de sementes de feijão preto/ valença que foi dado por Tio Mané do quilombo de São José da Serra.
Na manha do dia 10/11 percorremos mais 470 quilômetros até a comunidade quilombola Morada da Paz que fica no Estado do Rio Grande do Sul a cerca de 77 quilômetros de Porto Alegre. Chegamos lá no começo da noite bem no momento em que estava havendo os trabalhos religiosos da casa. Fomos recebidos por toda família e pelo circulo de boas energias e acolhimento. No dia seguinte, 11/11 acompanhamos algumas das atividades da casa, e conversamos sobre as propostas da Rota dos Baobás; sobre a história e das lutas pelo território e construção da Morada da paz, sobre as políticas que vivemos e que queremos e tantos outras pautas que fluíram ao longo da conversa. No dia 12/11 fomos com os quilombolas da comunidade até a feira do Livro em Porto Alegre, onde fizeram um cortejo de maracatu (grupo Omadê de pijama) e também onde nosso companheiro Felipe que é do Jongo Dito Ribeiro de Campinas deu uma oficina de Jongo. Voltamos até a Morada e depois do almoço Luara deu uma oficina de filmagem e edição, onde os quilombolas produziram um video sobre a Comunidade e sobre a visão que tem sobre a rede mocambos lá. No dia seguinte parte da equipe percorreu os arredores da comunidade para analisar o território e as possibilidades de implantação das antenas para possibilitar uma conexão de internet livre para comunidade. A comunidade Morada da Paz desde de seu início visa construir um espaço que seja ideal para o crescimento e educação das crianças, sendo assim praticam da melhor forma ações que sempre estão em harmonia com a natureza e com a evolução humana. Pensando nisso, com a orientação de Mãe Preta (entidade guia da casa) a comunidade decidiu criar a Concóla, que é uma escola que tem como proposta carregar valores e saberes ancestrais eque seja livre dos métodos padrões de ensino como os do estado brasileiro. Com base nesta proposta, no dia 14/11 aconteceu embaixo da árvore da sabedoria uma roda de conversa onde foi pensado os elementos e pedagogias afro centradas que desejam e as também as estratégias para se ter uma escola reconhecida pelo MEC e aberta as outras comunidades. No fim da tarde fomos novamente até Porto Alegre, dessa vez apenas com a equipe do Baobáxia, para visitar grandes mestres que também fazem parte da Rede Mocambos: Mestre Xico sua companheira Paula e a filha Tusile. O reencontro foi ao som dos tambores e cheio de histórias como de costume. Combinamos com eles como seria o dia seguinte já que iriamos juntos a alguns quilombos do Rio Grande do Sul. Na mesma noite voltamos Morada Paz, descansamos e na manha seguinte (dia 15/11) por volta das 07:30h saímos de lá, passamos rapidamente em Porto Alegre pra buscar Mestre Xico e Paulo e seguimos. Percorremos 200 quilômetros até o quilombo Monjolo localizado em São Lourenço do Sul, onde fizemos uma roda de conversa com os quilombolas sobre território, apresentamos o Baobáxia e entregamos às mulheres uma muda de Baobá. Depois de passar a tarde no Monjolo, mestre Preto do Centro de apoio e promoção de Agroecologia nos guiou até o quilombo do Torrão, que fica ali perto do quilombo Monjolo, e onde conhecemos e conversamos com algumas mulheres quilombolas de lá. Seguimos com duas delas, e as levamos até a Rodoviária que fica à cerca de 60 quilômetros dali e então seguimos até Pelotas chegando lá as 23h.. Deixamos Paula e mestre Xico na casa de seus parentes e seguimos por mais 15 minutos até a casa da mãe de Akin, que nos acolheu com muito carinho. Do quilombo do torrão a Pelotas percorremos um total de 73 quilômetros. No dia 16/11 fomos ao centro de Pelotas, onde encontramos Geórgia, uma jovem que nasceu em campinas na mesma rua que mestre TC foi criado, e que está em Pelotas há dois anos estudando música, ela nos levou pra conhecer a universidade que estuda. Voltamos com ela pra casa da mãe de Akin e fizemos um ensaio com os tambores de aço que levamos para fazer a apresentação no festival NacionBit em Salinas - Uruguai. Na manhã seguinte (17/11) passamos novamente pelo centro de Pelotas, abastecemos e seguimos para o Uruguai, porém apenas com mestre TC, Felipe e Layla pois, Akin e Luara decidiram ficar em Pelotas e na volta quando a rota passasse por lá novamente, voltariam com a gente. Entao seguimos, percorrendo mais 260 quilômetros até Chui (fronteira entre Brasil e Uruguai). Chegando na fronteira a alfandega não permitiu nossa entrada pois os documentos do veículo está no nome da Casa de Cultura Tainã, e neste caso quando o veículo não está no nome do condutor é preciso uma autorização da empresa ou entidade para permitir que o condutor, neste caso mestre TC, possa conduzir o veículo no pais estrangeiro. Então voltamos ao Chui que fica a poucos quilômetros da alfandega e passamos a noite em um hotel pois a autorização teria que ser reconhecida em cartório e o mesmo já se encontrava fechado. Sendo assim, logo cedo já sendo dia 18/11, fomos até a embaixada que assim como o cartório fica há algumas quadras do hotel que ficamos. Colhemos informações sobre o assunto e fomos instruídos a ir ao cartório onde fizemos em um escritório no outro lado da rua a autorização, reconhecemos no cartório e então seguimos. Passamos rapidamente por uma cidade chamada Rocha onde estava um amigo que também é de Campinas e que participou durante anos da Casa de Cultura Tainã, mas infelizmente não o encontramos. Percorremos ao todo de Chui a Salinas um total de 290 quilômetros, chegamos por volta das 16h (já com fuso horário) na Cooperativa Nacion Zumbalele, onde tivemos um reencontro emocionante com nossos amigos que já haviam ido duas vezes á Tainã, no primeiro Encontro da Rede Mocambos e também no ano de 2015. Lá eles já estavam preparando a cooperativa pro festival, então conversamos, contribuímos com os preparativos e descansamos. No dia seguinte (19/11) fizemos uma roda de conversa sobre comunicação junto com outros coletivos que também participaram do festival tais como a radio Guidaí. Neste dia mestre TC foi com o Baobá Móvel até Monte Video buscar o grupo Afrocósmicos que também se apresentaram no festival e o querido Mestre José Cardoso. E então começou o festival, o grande intercambio cultural que envolveu musica, dança, áudio visual, artesanatos e candombe. Nós enquanto tambores de aço fomos em poucos pois pelo fato de ter conciliado a Rota dos Baobás com o festival, levamos bastante tempo e o restante dos participantes da orquestra devido á compromissos, trabalhos e estudos não puderam vir, mas mesmo assim foi rico ainda mais com a participação de la comparsa Zumbalele que tocaram o candombe junto com algumas musicas de nosso repertorio. O festival foi até o raiar do dia e por volta das 14h fomos até a sede da comparsa 100% Candombe onde os parceiros do grupo Afrocósmicos deram uma oficina de dança e percussão afro, depois da oficina participamos do cortejo de candombe com os tambores que levamos da Tainã (sendo que um dos tambores foi dado por nossos parceiros da nacion zumbalele quando estiveram lá). A noite jantamos todos juntos, conversamos e como os outros dias, rimos muito. Dia 21/11 nos despedimos, deixamos um tambor para o pequeno batuqueiro Balta, filho de Gustavo e Jacqueline. Infelizmente não levamos muda de baobá pois imaginamos que não seria permitido ultrapassar a fronteira com a muda, porém, deixamos sementes. Voltaram com a gente Cecília uma mulheres que apresentou e também nos deo uma cópia do filme Soy Tambor e dois amigos argentinos que conhecemos no festival que são do grupo ChillOut , eles vieram nos seguindo até Guaiba, depois seguiram até Florianópolis. Passamo novamente por Rocha onde deixamos Cecília e seguimos por mais 131 quilômetros até Chui, trocamos os pesos por real,nos alimentamos e seguimos por mais 260 quilômetros até Pelotas. Chegamos por volta das 23h, fomos para casa da mãe do Akin e lá estavam eles nos esperando, nos acolheram junto com os argentinos, conversamos e descansamos. No dia seguinte dia 22/11, passamos novamente pelo centro de Pelotas para buscar Geórgia que decidiu voltar com a gente até Campinas já que sua universidade está em greve por conta das manifestações feitas contra a PEC 241. Sendo assim, fomos com ela, Akim, Luara, mestre TC, Felipe, Layla e os argentinos até Guaíba que fica á 22 quilômetros de Porto Alegre trilhando no total 233 quilômetros. Lá nos despedimos dos argentinos que seguiram para Florianópolis, e fomos até o Ilê asé Cultural Assobecaty de Mãe Carmem que nos esperava de braços abertos junto com sua filha Greice que também faz parte da Rede Mocambos. De início elas nos noticiaram sobre o alto índice de violência que há na comunidade e na região e como o Ilê propõe novos caminhos a essa juventude que em sua grande maioria é formada por adolescentes negros. Além das conversas fomos trabalhar com algumas das máquinas do telecentro que foi implantado através do programa telecentros BR Deixamos um baobá e algumas cópias do livro Batalha do Vivo que foi produzido pelo coletivo Contrafilé e no qual também participamos . Ficamos com uma caixa desses livros e estamos distribuindo nas comunidades que passamos. Por volta das 18h seguimos até porto alegre percorrendo mais alguns quilômetros até a casa de Cultura Afro Sul onde encontramos grandes parceiros Iara e Paulo Romeu que são fortes ativistas do movimento negro de Porto Alegre. Tivemos um longo diálogo sobre as políticas do nosso país e também sobre o projeto que estamos executando. Passamos a noite lá e na manhã seguinte, dia 23/11 percorremos mais 1000 quilômetros até a comunidade quilombola de Ribeirão Grande onde havíamos passado na ida, e onde ficamos novamente na casa de nossa parceira Nilse. Trocamos mais sementes que havíamos trazido das comunidades que passamos. descansamos, e na manha seguinte (dia 24/11) fomos conhecer a roça e também o lugar onde seu Pininxa e sua família produzem o melado, o açúcar mascavo e rapadura espaço também denominado como ''trafico''. Deixamos as mulheres dali a ultima muda de Baobá que levamos, que foi simbolizada e entregue com muito asé. Por fim seguimos por mais250 quilômetros até Campinas, onde chegamos por volta das 23h.