A Rota Sudeste teve início na manhã do dia 28/8. Saímos de Campinas percorremos 190 km até Taubaté onde encontramos nossos parceiros Ivan, Paula e o filho deles Samuel. Seguimos juntos e no caminho também passamos no Ilê Axè Omò Aiye de Ya Nadya e mestre Lumumba , que fica em São Luiz do Paraitinga. Tivemos um reencontro cheio de energia e memórias, trouxemos de lá mudas de Araucária e muito axé. Seguimos em frente. Descemos a serra no fim da tarde, percorrendo mais 60 km e chegando a noite na casa de nossos parceiros Ivan e Paula que nos apresentaram toda a tecnologia sustentável que utilizaram para construir a casa, que envolve: placas solares, adobe, vigas de madeira teto verde e outras tecnologias que reduzem gastos e danos a natureza.
Passamos a noite lá e no dia seguinte percorremos alguns quilômetros a caminho do Quilombo da Fazenda da Caixa. Por lá passamos pelo telecentro da comunidade onde já foi feita ações e intervenções da Rede Mocambos por volta do ano de 2007, e onde nos conectamos através da antena Gesac para fazer as comunicações necessárias com a equipe e com as lideranças que encontramos depois. Logo em seguida fomos caminhando até a Casa de Farinha, onde encontramos Seu Zé Pedro que ali estava sentado cheios de histórias pra contar. A casa de Farinha foi fundada no sec. XIX e utilizava do trabalho escravo para produzir álcool e açúcar, mas hoje produz farinha. Zé Pedro me contou, que os negros que ali trabalhavam foram trazidos de vários países diferentes da África, seu avô por exemplo, veio de Angola e naquele dia deixamos a ele uma muda de Baobá cuja semente veio de Moçambique e foi semeada na Tainã, e também deixamos uma das mudas de araucária dadas pelo mestre Lumumba que serão plantadas pelas mãos de Zé Pedro e pelas mãos d@s quilombolas da comunidade. Trouxemos um quilo de farinha que foi produzida lá e uma compota de mel. Seu Zé Pedro também nos presenteou com seu livro: Eu tenho o meu sonho.
Continuamos seguindo pela Br 101, que da acesso a diversos quilombos do litoral de Ubatuba a Paraty. Essa rodovia quando construída dividiu diversos quilombos ao meio, tais como o Quilombo da Fazenda da Caixa. Sendo assim, atravessamos a rodovia para acessar a outra parte do quilombo que fica dentro de uma reserva florestal, lá encontramos Laura, grande parceira e liderança da comunidade e deixamos o convite para @s quilombolas que quisessem nos acompanhar e fortalecer a Rota dos Baobás. Caminhamos cerca de 70 km rumo ao quilombo do Campinho, chegamos a noite e fomos recebidos pelo Fabinho e sua família. Em especial sua mãe Dona Dalva, nos acolheu com muito carinho e afeto. No Quilombo do Campinho realizamos uma roda de conversa pra falar sobre assuntos estruturantes pra comunidade e para o movimento. Foi realizado duas oficinas que envolveu cerca de 10 crianças que aprenderam e executaram a manutencao das máquinas, instalacão do software livre nas máquinas do telecentro.
No dia 31/8 mestre TC voltou ao quilombo da Fazenda da Caixa para buscas o Cristiano, um jovem estudante do quilombo filho de Dona Laura que se prontificou em participar da rota. Então seguimos, agora também com Fabinho do Campinho que é cineasta, Drebis (programador, que havia chego de sp), Cristiano, eu Layla e mestre TC.
Neste mesmo dia saímos do Campinho e percorremos cerca de 174 km até Pinheiral passando pelo quilombo de Bracui, onde estava havendo um encontro na beira do rio cachoeira. Encontramos alguns parceiros, trocamos algumas ideias e seguimos em frente. Chegando em Pinheiral, encontramos Fatinha, grande mulher e referencia no jongo de Pinheiral. Almoçamos junt@s e fomos guiados por ela percorrendo mais 70 km até o quilombo de São José da Serra.
Este quilombo é uma grande referencia de tradição, resistência e cultura e recentemente através de muita luta os quilombolas conseguiram a reintegração de posse da casa grande que fica dentro do território do quilombo e que até então pertencia a um fazendeiro. Me surpreendi vendo o quanto as crianças respeitam e vivem intensamente suas tradições, que vai dês de pedir a benção aos mais velhos até tocar , dançar jongo e sentir a energia do tambor. A troca que tivemos com eles foi muito rica e produtiva. Lá também fizemos oficinas de montagem, manutenção e a instalação do software livre nas máquinas que já haviam no telecentro do quilombo, além de discutir a importância da produção de nossos próprios conteúdos e memórias, e a simbologia do território digital livre. Deixamos lá uma muda de baobá e assim como vi brotar esse pé de baobá, vi brotar sorrisos, vi brotar forças e ideias. A noite, usando o projetor que deixamos a eles, fizemos a primeira exibição das fotos que foram produzidas também pelas crianças do quilombo. Logo depois fizemos uma linda roda de jongo em torno da fogueira para nos despedir.
Na manhã seguinte, dia 2/8 voltamos com sementes de milho, feijão e ramas de mandioca do quilombo e seguimos sentido Pinheiral para deixar nossa companheira Fatinha que nos mostrou o casarão de uma fazenda (que hoje encontra-se em ruínas), que fica bem próximo a sede do Jongo de Pinheiral, considerada um grande império do café que pertencia a um dos maiores donos de escravos do Brasil que mesmo após abolição continuou praticando o comercio escravo durante muitos anos e segundo historiadores ele tinha em sua propriedade mais de 6.000 escravizados.
No mesmo dia, voltamos para o quilombo do Campinho onde realizamos mais algumas atividades, similares as realizadas em São José da Serra ,envolvendo as crianças e a apropriação das tecnologias livres. Do Quilombo do Campinho, trouxemos e deixamos algumas mudas entre elas Cacau e Jussara. Na volta Passamos novamente por São Luiz do Paraitinga e em São Paulo para deixar nosso companheiro Drebis. Chegamos novamente em Campinas na madrugada do dia 5/9.
Nossa missão foi realizada e construída com a participação de todos nós. Semeamos e construímos junt@s mais uma parte do processo, trocamos sementes, mudas, ideias, pensamentos e ações, nos fortalecemos ainda mais enquanto indivíduos que lutam pela liberdade, pela autonomia e pela existência da cultura, da memória e da tradição do nosso povo.
A rota dos Baobás também é a rota do escambo, a rota da troca a rota do fortalecimento cultural, ancestral, afetivo e tecnológico.