Na noite do dia 15 de maio de 2017 sendo o dia em que Austregésilo Carrano completaria 60 anos,foi entregue o 9° Prêmio Carrano de Luta Anti manicomial e Direitos Humanos. O ato aconteceu no Centro de Memória do Circo que fica na Galeria Olido no centro de São Paulo, Antônio Carlos Santos Silva ( TC ) foi um dos homenageados por contribuição com a luta anti manicomial. O evento integrou a semana do Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/05). Nos intervalos da entrega do Prêmio aconteceram intervenções musicais e leituras. A apresentação fica por conta do palhaço e músico Clerouak.
Os homenageados que receberam os troféus neste ano foram: Audálio Dantas, Cia. Os Crespos, Craco Resiste, Érica Malunguinho (Aparelha Luzia), Guilherme Boulos (MTST), Memorial da Resistência de São Paulo, Rede Sampa, SOF – Sempreviva Organização Feminista, TC – Antonio Carlos Silva. . Para completar o número 13, (relevante para o coletivo), faremos menção a cinco nomes de importância na Luta Antimanicomial e Direitos Humanos, antes do início da entrega haverá projeção de vídeos com Fernão Campa com passagem sonora de Raul Zito e nos intervalos, haverá performances e apresentações musicais com a participação do Coral Cidadãos Cantantes, Maicon Pop, Léo Dumont e artistas convidados, o mestre de cerimônia será o palhaço e músico Clerouak. Estarão disponíveis os dois últimos livros publicados por Carrano em parceria com o selo O Autor na Praça com textos de teatro: “Canto dos Malditos” e “O Sapatão e a Travesti”.
Sobre os homenageados:
Audálio Dantas – Um dos jornalistas mais importantes de sua geração, tendo passado pelos principais veículos de comunicação do país, Audálio Dantas presidiu o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, entre 1975 e 1978. Nesse período, conduziu os protestos pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, que ocorreu nas dependências do DOI- Codi de São Paulo. Em seguida, foi eleito deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1981, recebeu na ONU um prêmio por sua atuação em defesa dos direitos humanos. Em 2012, lançou o livro “As duas guerras de Vlado Herzog”, no qual destaca a participação do sindicato no episódio da morte de Herzog, que foi um divisor de águas no enfrentamento à ditadura pela sociedade civil. (www.memoriasdaditadura.org.br).
Cia. Os Crespos – O embrião da companhia foi um grupo de estudos formado em 2005 na Escola de Arte Dramática da USP, influenciado pela trajetória do Teatro Experimental do Negro (TEN) de Abdias do Nascimento[2]. Era integrado por Sidney Santiago, Lucélia Sérgio, Mawusi Tulani e Joyce Barbosa, e dedicado à pesquisa sobre a presença negra no teatro. Em 2006 o núcleo tornou-se o grupo teatral Filhos de Olorum. No ano seguinte, adotou o nome Os Crespos e montou seu primeiro espetáculo, Ensaio sobre Carolina. A estreia em 2007, com direção de José Fernando de Azevedo, primeiro professor negro da EAD-USP, era uma releitura do texto de Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus. Depois de um ensaio aberto em Berlim, Ensaio sobre Carolina ficou em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro até 2010[3]. Com um projeto sobre essa peça, Lucelia Sergio da Conceição, membro do grupo, foi uma das 86 agraciadas do edital "prêmio Myriam Muniz", da Funarte, em 2009.
Em 2014, o grupo lançou a revista Legítima Defesa, reunindo entrevistas, artigos e dramaturgia[5]. No mesmo ano a companhia estreou o espetáculo Cartas a Madame Satã ou me Desespero sem Notícias Suas que contou com a colaboração de diversas pessoas que enviaram cartas ao grupo contando sobre suas experiências de vida[6], na peça o ator Sidney Santiago Kuanza utiliza dessas cartas para se comunicar com Madame Satã, transformista emblemático do início do século XX.
Craco Resiste – A Craco Resiste surgiu em dezembro de 2016, organizado de maneira autônoma e por meio da internet, a fim de evitar a violência policial na Cracolândia. Cerca de 20 colaboradores promovem diariamente atividades artísticas como rodas de samba, cinema e oficinas musicais com o objetivo de realizar uma vigília junto à população local. (http://vaidape.com.br/2017/02/existe-um-programa-para-cracolandia-que-nao-e-so-de-governo-ou-partidario-e-economico/).
Érica Malunguinho (Aparelha Luzia) – É um cultural-bar-lugar-de-resistência ou “associação-preta-política-artística-gentista-destruidora-das-razões-dominantes”, como prefere a aguerrida artista Erica Malunguinho, à frente do espaço localizado no mais charmoso galpão do centro paulistano, ali na rua Apa, número 78, nos arredores do metrô Marechal Deodoro. O nome emblemático é uma homenagem aos aparelhos dos anos 1960 e 1970, que abrigavam aqueles que lutavam contra a ditadura, apelido agora vertido para o feminino combinado com Luzia, nome da primeira brasileira, de traços negros e cujo fóssil data de 12 mil anos atrás. (http://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2016/12/29/com-resistencia-negra-aparelha-luzia-e-o-melhor-espaco-cultural-de-2016-1/). Guilherme Boulos (MTST) - 34 anos, Militante do MTST e da Frente Povo Sem Medo. Formado em Filosofia e psicanálise.
Memorial da Resistência de São Paulo - Valorização dos princípios democráticos e do respeito aos direitos humanos - Equipamento da Secretaria de Estado da Cultura e gerido pela Associação Pinacoteca Arte e Cultura (APAC), é uma Instituição que busca contribuir com reflexão sobre a história contemporânea do Brasil, com o objetivo de formar cidadãos críticos, conscientes da importância da democracia e do respeito aos direitos humanos. A exposição de longa duração foi inaugurada em janeiro de 2009, após um intenso trabalho que contou com profissionais de múltiplas disciplinas e especialidades, juntamente com ex-presos e perseguidos políticos. O Memorial da Resistência desenvolve diversos programas, com projetos de pesquisa, de ação educativa, ação cultural e exposições, todos gratuitos e voltados a diferentes perfis de público. Desde 2014, desenvolve o projeto “Memorial ParaTodos”, que é voltado ao atendimento de pessoas com deficiências sensoriais, físicas, intelectuais e transtorno mental, desenvolve materiais acessíveis para as visitas educativas na exposição de longa duração e temporárias e realiza uma série de parcerias como forma de ampliar sua atuação, dentre as quais destacam-se as realizadas com instituições que trabalham com saúde mental. (http://www.memorialdaresistenciasp.org.br/memorial/).
Rede Sampa – Saúde Mental Paulistana - É um conjunto de ações de Educação Permanente em Saúde desenvolvido no município de São Paulo desde 2013, com financiamento misto entre o Ministério e a Secretaria Municipal de Saúde. A formação profissional é aqui entendida como processo contínuo, interligado à produção de conhecimento e não apartado da ação e da experiência, que busca o fortalecimento de grupos e sujeitos na criação de novas modalidades de participação e construção de relações colaborativas. (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/ems/noticias/?p=163630).
SOF – Sempreviva Organização Feminista - Feminismo, Movimento Social e Transformação são as razões de ser da SOF – Sempreviva Organização Feminista. A SOF é uma organização não-governamental feminista em funcionamento desde 1963, com sede na cidade de São Paulo e atuação em âmbito nacional. Nosso objetivo é contribuir na construção de uma política feminista articulada ao projeto democrático-popular, que esteja presente na formulação de propostas e nos processos organizativos e de luta dos movimentos sociais. Esta política deve transformar as relações de gênero e favorecer a autodeterminação das mulheres. (http://www.sof.org.br/).
TC – Antonio Carlos Silva - Músico, compositor, arranjador, construtor de instrumentos musicais, fundador e coordenador da Casa de Cultura Tainã e diretor musical da Orquestra de Tambores de Aço. Articulador do Movimento Negro Unificado desde 1974. Prêmio Ordem do Mérito Cultura da Presidência da República (2006). Filho de Geralda Santos Silva e Alfredo Januário. Foi Fundador do Grupo de Teatro Evolução com Benedito Luiz Amauro (Lumumba) em 1972. Histórico do Prêmio - 18 de maio é o dia Nacional da Luta Antimanicomial e no dia 27 de maio completam-se nove anos que um dos maiores militantes desta Luta nos deixou, em 2008: Austregésilo Carrano Bueno, dramaturgo e escritor, que se empenhou até o fim de sua vida pelo fim dos manicômios no Brasil. Carrano – como Nise de Silveira - se destacou na Luta Antimanicomial. Eleito representante dos usuários em congresso na cidade de Xerém-RJ, atuou muitos anos na Comissão Nacional de Reforma Psiquiátrica do Ministério da Saúde, chegando a receber, em 2003, uma homenagem das mãos do presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, por seu total envolvimento na Reforma Psiquiátrica. Além das torturas e sessões de eletrochoques sofridas nos tempos em que foi isolado do convívio social e confinado “em chiqueiros psiquiátricos”, como dizia, Carrano sofreu vários processos judiciais por sua militância, principalmente por parte dos familiares dos médicos responsáveis pelos “tratamentos” recebidos nas passagens pelos manicômios onde esteve internado, por quase três anos. Após o confinamento escreveu o seu drama no livro “Canto dos Malditos” que originou o filme “Bicho de sete cabeças”, de 2001, primeiro longa-metragem dirigido por Lais Bodanzky, que revelou o jovem ator Rodrigo Santoro e se tornou o filme mais premiado do cinema brasileiro. A repercussão da obra no cinema e o livro intensificaram uma revolucionária mudança na Reforma Psiquiátrica no Brasil. Carrano nunca desistiu de seus ideais e sonhos por uma sociedade mais humana que trata a todos sem diferenças, continuou militando até seus últimos dias no Movimento da Luta antimanicomial, mesmo com a saúde debilitada e condições financeiras precárias - morreu condenado a pagar 60 mil reais para os médicos do qual foi “cobaia humana”, recebendo 21 eletrochoques e outras violências - sobre isso ele falava: "Estou condenado a indenizar as famílias dos torturadores dos quais fui vítima", mesmo nessas condições, no dia 18 de maio de 2008, participou do Dia Nacional de Luta Antimanicomial, Belo Horizonte, vindo a falecer nove dias depois.
O Prêmio foi criado em 2009, 1 ano após Carrano fazer sua passagem, é uma ação para que a sua voz não se cale e seu nome continue vivo não só no Movimento de Luta Antimanicomial, como nos direitos da humanidade em geral, o Prêmio CARRANO de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos tem como objetivo dar continuidade a sua luta por uma mudança nas condições de tratamento de pessoas em sofrimento mental, fazendo valer a Lei nº 10.216/2001 da reforma Psiquiátrica no Brasil, da qual Carrano foi um dos maiores defensores, crítico e principal militante-usuário. O troféu é entregue anualmente a 8 pessoas e/ou instituições, que com sua arte e atitudes contribuem com os dois temas, denunciando, atuando com sua área e manifestando sua indignação contra quaisquer violações dos Direitos Humanos, especialmente no que se refere às pessoas nas condições de sofrimento mental. Foi criado o Coletivo Gato Seco – Nos telhados da Loucura, que tem o papel da organização do Prêmio. Inicialmente o coletivo era formado por Edson Lima, coordenador do projeto O Autor na Praça, Erton Moraes escritor, compositor e músico do Movimento TrokaosLixo, Lobão, poeta, escritor, integrante do Movimento 1daSul e Sarau do Cooperifa, grande amigo de Carrano, a produtora cultural Nádila Paiva, o educador e coordenador da AEUSP,
Adriano “Mogli” Vieira, a escritora e produtora Paloma Kliss do projeto Literatura Nômade, a psicóloga e militante do Movimento Nacional de Luta Antimanicomial Patrícia Villas-Bôas Valero, a poeta Tula Pilar, o músico e compositor Léo Dumont e outros amigos de Carrano. Trata-se de um grupo aberto a pessoas e instituições interessadas em participar e colaborar com esta iniciativa. Atualmente integram o Coletivo: Edson Lima, a psicanalista Patrícia Villas-Bôas Valero, o educador e ativista social Adriano Mogli Vieira, o palhaço e músico Clerouak e o artista plástico e ativista social Julio Dojcsar. Veja um depoimento no plenário do Senado, pelo Senador Eduardo Suplicy no ano em que recebeu o prêmio: http://www.youtube.com/watch?v=XafXh0_Idlg.
Sobre a concepção do troféu – As esculturas que serão simbolizadas como prêmio trazem uma estética de uma série de trabalhos que o artista plástico Julio Dojcsar vem desenvolvendo e que denomina como Entrelhados, estes trabalhos surgem de madeiras coletadas em caçambas, madeiras de lei que são desmonte de telhados de antigas casas nos bairros da Lapa e do Butatan, Entrelhados são as memórias que ficam incrustadas nestas estruturas pela vivência do espaço, quantos sonhos, brigas e felicidades estas madeiras absorveram até serem descartadas pela verticalização das cidades, em cada madeira são encravados objetos que remetem a um conjunto de arquétipos, como a racionalidade, a necessidade de parir, a infância recalcada, etc., diz Dojcsar.
Sobre os convidados: vamos apresentar informações após a confirmação dos nomes. Pequena biografia de AUSTREGÉSILO CARRANO BUENO - Curitibano, escritor, ator, dramaturgo. Autor de dois livros editados: “Canto dos Malditos”, que originou o filme “Bicho de Sete Cabeças” (veja aqui o trailler) e “Textos – Teatro – Seis peças para Teatro”. O texto para teatro de sua autoria “SOS Mãe natureza”, premiado na ECO-92, foi adaptado para livro infanto-juvenil, com titulo provisório: “SOS... Os Senhores Mesquinhos estão devorando a Mãe Natureza” que não foi publicado ainda, embora Carrano tenha batido a portas de algumas editoras. Em parceria com o selo O Autor na Praça, publicou em 2007, dois livros de textos para Teatro: Canto dos Malditos e O Sapatão e a Travesti, com a renda da venda desses livros esperava publicar de forma independente uma nova edição de “Cantos dos Malditos” e seu novo romance “Filhas da Noite”, ainda não publicado. Durante quase 3 anos de internações Carrano sobreviveu a 21 aplicações de Eletroconvulsoterapia; choques numa voltagem de 180 a 460 volts aplicados nas temporas. Carrano foi Ativista do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, Membro da Comissão Intersetorial de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Representante dos Usuários no Conselho Nacional de Reforma Psiquiátrica (Eleito no Encontro Nacional dos Usuários e Familiares em Xerém, RJ), Defensor Ferrenho das Indenizações as Vítimas do Holocausto Psiquiátrico Brasileiro, foi homenageado pelo Ministério da Saúde em 2003. O trabalho de Carrano foi reconhecido nacional e internacionalmente, envolvendo a questão da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Como ele exigia e defendia: “Temos que ter uma nova visão e maneira de tratarmos, sem preconceitos, respeitando seus direitos de cidadão, e aceitando o diferente que se encontra em sofrimento mental. Um basta definitivo no confinamento, sedação e experiências com cobaias humanas. Confinar não é tratar, é Torturar, portanto, são crimes psiquiátricos que devem ser cobrado responsabilidades e serem pagas indenizações as Vítimas”. “(...) Ainda espero ser indenizado pelas torturas psiquiátricas sofridas, pela minha condenação aos preconceitos sociais, danos físicos, emocionais, morais, danos na minha formação profissional, danos financeiros, destruição de minha adolescência. E esses meus direitos de cidadão serão cobrado até o fim dos meus dias. Se não conseguir em vida, algum dos meus filhos ficará com essa incumbência. Justiça plena e total é o que exijo, e mesmo depois de morto continuarei a exigir. Não só para mim, exijo essas indenizações para todas as vítimas do holocausto da psiquiatria brasileira, não desistirei por nada nem que leve o resto da minha vida” (Texto de Carrano no posfácio da última edição do livro Canto dos Malditos). Vejam depoimentos do Carrano: http://www.youtube.com/watch?v=bElqEmQhpBU Neste depoimento Carrano faz a leitura de seu poema “Sequelas... e... Sequelas” de abertura do livro “Canto dos Malditos”, que originou o filme “Bicho de sete cabeças” (o texto do poema está ao final deste release).
SINOPSE do livro Canto dos Malditos - História real do período que o autor passou confinado por três anos e meio em instituições psiquiátricas do Paraná e Rio de Janeiro, dos 17 até 21 anos. Sofrendo torturas, e as mazelas de um sistema manicomial brasileiro arcaico, confinador, estigmatizante, e que chamam de “tratamento psiquiátrico”. O livro foi escrito não com a intenção de denegrir a imagem de médico psiquiatra algum, e sim é um relato fiel a que são submetidos os pacientes psiquiátricos dentro dos manicômios. O livro “Canto dos Malditos” deu origem ao filme mais premiado da história da cinematografia brasileira: “Bicho de Sete Cabeças”, dirigido por Laís Bodanzky, recebeu 45 prêmios nacionais e 08 prêmios internacionais, ao todo são 53 prêmios conquistados.
Homenageado pelo Presidente da República Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 28 de maio de 2003, pelo seu empenho na Reforma Psiquiátrica, que está sendo construída em todo o Brasil; Porém, todo esse empenho e reconhecimento, têm-lhe cobrado um grande preço, na sua terra natal. Em Curitiba, um Lobby de Psiquiatras, contrários às ideologias de Carrano, e do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, são eles, opositores ferrenhos a Reforma Psiquiátrica no Brasil. Esses Empresários da Loucura, donos e associados dos hospitais psiquiátricos, fizeram perseguições indecentes, constantes e aviltantes, lançou a 1ª edição do livro em 1990, pela Scientia et Labor, Editora da Universidade Federal do Paraná. Dias após o lançamento, o livro foi retirado das livrarias a mando desse Lobby de Psiquiatras. Só voltando a ser publicado em 1991, pela Editora Lemos, de São Paulo, Carrano comprava a edição e a vendia em seminários, palestras, feiras culturais, entre elas uma em um Shopping da cidade, por onde chegou as mãos da diretora do filme Laís Bodanszky. Chegou a publicar e bancar sete edições do livro sem ser vendido em livrarias.
Em 13 de maio de 1998, Carrano entrou com a “1ª Ação Indenizatória” por erro, tortura e crime psiquiátrico no histórico forense brasileiro. Até sua morte em maio 2008, uma de suas rotinas foi responder a processos jurídicos de todos os tipos, até um processo que exige que ele se calasse, proibindo-o de falar de sua experiência dentro dos chiqueiros psiquiátricos que foi torturado. As Perseguições judiciais que recebia, eram repudiadas pela sociedade brasileira, causando indignação em ongs nacionais e internacionais de Direitos Humanos. O livro “Canto dos Malditos” foi cassado, retirado novamente das livrarias e proibido em todo o território nacional, em abril de 2002. Da primeira Ação Indenizatória por erro, tortura e crime psiquiátrico no Brasil, de vítima virou réu, em maio de 1999 foi condenado a pagar R$ 60.000.00 aos donos dos “Chiqueiros Psiquiátricos” do qual foi vítima. Entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal em Brasília. Em novembro de 2003 foi condenado novamente a pagar mais R$ 12.000.00 em vinte e quatro horas, por citar os nomes dos hospícios e dos médicos na imprensa, por estas citações chegou a receber ameaças de morte. Na sentença desse processo seu direito de livre expressão foi cassado, foi proibido de falar o nome de seus torturadores em público, com uma multa de R$ 50.000.00 a cada desobediência jurídica. Julgado pelo Judiciário Paranaense, de Vítima da Tortura Psiquiátrica se tornou Réu por denunciar, exigir mudanças radicais, indenizações, cobrança de responsabilidades dos profissionais dessa falsa psiquiatria que confina, droga e mata pessoas em suas casas de extermínios, os “chiqueiros psiquiátricos” brasileiros. Pagou o preço por enfrentar essa Máfia do Inconsciente, donos exclusivos e ditadores do “Saber Psiquiátrico!”.
Tentaram o calar a todo custo. Foi sem dúvidas um artista, revolucionário, guerreiro da Luta Antimanicomial e dos Direitos Humanos e um dos mais batalhadores por estas causa no Brasil. Conseguiu, bancando sozinho o trabalho de seu advogado na liberação do seu livro “Canto dos Malditos”, depois de dois anos e meio cassado e retirado de todas as livrarias brasileiras, não contou com nenhum apoio da editora da época. “Canto dos Malditos” foi dos poucos livros proibidos depois do fim da Ditadura Militar. Voltou às livrarias em setembro de 2004, com um posfácio mais picante, denunciando os crimes psiquiátricos e também as fortunas psiquiátricas ilícitas. Cobrando, exigindo “Indenizações” imediatas às Vítimas do Holocausto Psiquiátrico Brasileiro... “A Luta pelos Direitos Sociais de nós ‘Vítimas Psiquiátricas’, está apenas começando, agora que a cobra vai fumar!” dizia Carrano.Sequelas... e ... Sequelas
Seqüelas não acabam com o tempo. Amenizam. Quando passam em minha mente as horas de espera, sinceramente, tenho dó de mim. Nó na garganta, choro estagnado, revolta acompanhada de longo suspiro.
Ainda hoje, anos depois, a espera é por demais agonizantes. Horas, minutos, segundos são eternidade martirizantes. Não começam hoje, adormeceram há muito tempo, a muito custo... comigo. Esta espera, Oh Deus! É como nunca pagar o pecado original. É ser condenado a morte várias vezes.
Quem disse que só se morre uma vez?
Sentidos se misturam, batidas cardíacas invadem a audição. Aspirada à respiração não é... É introchada. Os nervos já não tremem... dão solavancos. A espera está acabando. Ouço barulho de rodinhas. A todo custo, quero entrar na parede. Esconder-me, fazer parte do cimento do quarto. Olhos na abertura da porta... rodam a fechadura. Já não sei quem e o que sou. Acuado, tento fuga alucinante. Agarrado, imobilizado... Escuto parte de meu gemido.
Quem disse que só se morre uma vez?(Austregésilo Carrano Bueno – Poema das quatro horas de espera para ser eletrocutado – aplicação da eletroconvulsoterapia). Veja o poema na voz de Carrano: http://www.youtube.com/watch?v=22Ai29O1qIo&feature=related